Nossas crenças sobre o dinheiro afetam nossa capacidade de gerar riquezas e obter segurança financeira. Essas crenças formam um conjunto de idéias que chamamos de “mentalidade”. E cada um pode, a cada dia, através de gestos, afirmações verbais, reflexões e pensamentos positivos, atualizar a sua mentalidade de acordo com suas convicções e vontade.



O motivo de não podermos afirmar, quantas laranjas existem numa semente é que a resposta é INFINITO.  (Cada semente gera uma laranjeira que produzirá milhares de laranjas, que por suas vezes produzirão milhares de sementes e assim por diante, sempre de forma exponencial ). 

A mentalidade da fartura é exatamente a consciência da abundância infinita de tudo no universo, para todos. Portanto, assim que   transpirarmos esta convicção, inexistirá limites para nossas realizações, o que nos traz a segurança de que nada nos faltará, e nos leva a agradecer sempre, pelo que somos e temos.


A mentalidade da escassez é representada pelo medo do amanhã,  que transforma o indivíduo em um pedinte compulsivo, que vive a ditar para o universo, tudo aquilo de que está "necessitando" para ser feliz.

Sua mentalidade com relação ao dinheiro pode pender para a abundância ou para a escassez. Pessoas com mentalidade de abundância tendem a gerar riquezas com muita facilidade e, aos olhos dos outros, parecem “ter sorte”, ao passo que pessoas com mentalidade de escassez nunca conseguem sair do lugar, parecendo sempre atrair situações indesejáveis e jamais conseguindo prosperar financeiramente na vida.


Essa mentalidade supera o simples conhecimento. A teoria sobre como fazer dinheiro e como administrar suas finanças é, de fato, importante, mas uma pessoa com mentalidade de escassez jamais conseguirá usar esse conhecimento a seu favor. 


A pessoa com mentalidade de abundância, pelo contrário, pode perder repetidamente sua fonte de renda ou seus recursos, pois se recupera novamente, sem ajuda e sem “truques”. Donald Trump é um dos exemplos mais conhecidos por ter arruinado inúmeros negócios em diversas ocasiões ao longo de sua vida. Ele refez seu patrimônio, vivenciando o sucesso em número superior aos fracassos.


Sua mentalidade determina o que você aceita e não aceita em sua própria vida e, em termos práticos, você simplesmente não deixa entrar nada que não se enquadre com perfeição nos moldes que você criou para si mesmo.


Tanto em situações profissionais e financeiras quanto na vida pessoal. Quando algo acontece fora de sua esfera de conforto, ou seja, quando uma realidade qualquer ameaça sua própria noção de quem você é, você pode até se sentir entusiasmado e feliz
em um primeiro momento (quem não se sentiria assim com a oferta generosa?), mas a sensação de que “há algo errado” não demora a surgir e o processo de autossabotagem interno começa a boicotar a “nova” realidade para que as coisas voltem a ser como antes.


É por esse motivo que fortuna instantânea tende a durar pouco, seja um prêmio de loteria, uma herança ou mesmo o fruto do trabalho pessoal, como no caso de artistas e escritores que, de uma hora para outra, se veem em posse de um dinheiro que não faz parte de sua realidade.


O progresso em qualquer área da vida, não só com relação ao dinheiro, depende fortemente da atualização constante da mentalidade pessoal, que deve, aos poucos progredir e se adaptar ao cotidiano e a realidades cada vez melhores. Para tanto é importante abandonar paradigmas ancorados num passado que contradiz com o comportamento social do presente. Observem que quase todos são plenamente dispensáveis.


Para transcender a mentalidade de escassez é necessário perceber, admirar e agradecer de forma verdadeira, por tudo que temos e que somos, ao ponto de apreciar o milagre que representamos.

Agradeça o milagre de estar vivo, agradeça por seus órgãos, admire os recursos disponíveis para você, encante com a sua inteligência e capacidade de abstrair. precista em fixar-se no que tem e no que é, e iniba com todas as suas forças os pensamentos e sentimentos negativos. Encontre a cada dia, novas dádivas para para admirar e agradecer.

Pense com a consciência de que tudo será para uso temporário, e prepare-se, com um exercício diário, de não usura, para devolver cada uma delas para a circulação que garantirá a máxima da "abundância de tudo para todos".

Ora, se tudo em que fixamos é o que expande, logo, o caminho para livrar-se da escassez está correto.

Se você tem uma dívida e tem saúde e capacidade de  trabalhar. Fixe na saúde e na sua capacidade de produzir para que estas se expandam, caso contrário, você estará contribuindo para a expansão da dívida.

Quando você transpira a fartura de tudo para todos, você impulsiona a prosperidade de todos. Porém quando preocupa com a prosperidade de alguém, não tenha dúvida, você concorre para a expansão desta pessoa em detrimento da sua. Nunca esqueça do exercício diário da não usura. 


A pessoa presa na mentalidade de escassez, jamais consegue progredir financeiramente, nem sequer alguns passos além de onde ela já está.


                                          É como penso...
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Ser  mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer.

É fingir que não sabe aquilo que sabe.

É falar pouco e escutar muito.

É passar por bobo e ser inteligente.

É vender queijos e possuir bancos.


Um bom mineiro não laça boi com embira,

não dá rasteira no vento, não pisa no escuro, 

não anda no molhado,

não estiva conversa com estranhos, 

só acredita na fumaça quando vê o fogo, 

só arrisca quando tem certeza, não troca

um pássaro na mão por dois voando.


Ser mineiro é dizer UAI e ser diferente; 

É ter marca registrada, é ter história.

Ser mineiro é ter simplicidade e pureza,

humildade e modéstia, coragem e

bravura, fidalguia e elegância.


Ser mineiro é ver o nascer do sol e o brilhar da lua; 

É ouvir o cantar dos pássaros e o mugir do gado; 

É sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida.


Ser mineiro é ser religioso, conservador, 

cultivar as letras e as artes ; é ser poeta

e literato, é gostar de política e amar a

liberdade, é viver nas montanhas e ter vida interior.


José B. Queiroz
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 Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

    "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
    Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
    Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."
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Colmar:

Primogênito, apaixonado pelos pais, de quem herdou a disciplina e com quem aprendeu o valor do trabalho.
Estudou em Teófilo Otoni, Belo Horizonte e Lavras onde conheceu Necésia, e com ela casou-se e viveu por 50 anos.

Líder nato, conservador, assumiu a administração das fazendas, ainda junto com o pai, enquanto os irmãos estudavam. Com a morte daquele, constituiu o condomínio “Colmar Laender & Outros” para o qual adotou, junto com os irmãos, quase sempre de forma pioneira, as técnicas modernas para o setor do agronegócio como: confinamentos, inseminação artificial, consorciação de gramíneas e leguminosas, com sementes ainda importadas, principalmente da Austrália.

Com grande consciência ambiental, reverteu como poucos, grande parte da renda das propriedades em adubação, calagem, preservação das reservas de matas e diversas outras técnicas da agrostologia ( Estudo das pastagens ) contemporânea, que garantem até hoje a sustentabilidade das fazendas. Em todos os anos o resultado sinérgico do seu trabalho com os irmãos contabilizou valores quantitativos e qualitativos, sempre positivos.

Experimentou, de maneira segura, expandir os negócios em Guanambi, no sudoeste da Bahia, com a pecuária de corte e o plantio de soja e algodão; em Itacarambi, no norte de Minas Gerais, com a pecuária de corte; em Santarém no rio Curuauna, no Pará, com a empresa de pecuária de corte “Só Boi” e, em Alta Floresta, no rio Apiacás, no norte do Mato Grosso, com o plantio de cacau.

Homem naturalmente bom, cauteloso, de temperamento forte e caráter inatacável, meu segundo pai, professor, espelho e orientador. Nas décadas de 1960 e 1970, acolheu-me em sua fazenda, como hóspede, amigo da família e menor aprendiz, e naquele ambiente, com seus ensinamentos, seus exemplos e sua vontade de me fazer grande, ao contrário de seguidor ou funcionário, pude perceber um significado que transcendia o labor, Aquela acolhida fez-me sentir que eu fazia parte de um objetivo maior que mera troca do suor pelo salário finito. E esses exemplos fincaram em mim o cerne do empreendedorismo, que levo para minha trajetória de vida. Por tudo isso sou eternamente grato.

Na década de 1980 o patrimônio foi dividido, de forma amigável, e cada irmão assumiu a administração do que lhe coube, e todos continuam cultuando o valor do trabalho, com o persistente combate à entropia, e o exercício do uso da boa técnica.

Hoje, em 2011, os irmãos Laender e seus familiares, contribuem para o PIB regional, com a produção superior a 10.000 litros de leite por dia, uma expressiva quantidade de arroubas de carne e um número considerável de matrizes de ótima genética que são vendidas para os demais criadores da região.

Link do perfil de Colmar:




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ESPÍRITO AVENTUREIRO


Como dizia o nosso amigo e fiel colaborador da Família Laender, Mário Baiano : "Ôh chente! A vida de Julenda dá p’ra escrever um rumance ". E eu, Jorge Edim, tenho o prazer de figurar em algumas páginas sobre as quais farei um breve resumo.


Em 1979, eu morava na Fazenda Parateca no Município de Carinhanha – BA, bem longe da minha terra natal, Teófilo Otoni – MG. Numa bela manhã, dentre os sons dos machados e as cantigas dos madeireiros, ouvimos o barulho característico do avião, CESNA 182 - SKYLANE prefixo ISK, que se aproximava.

Paramos o trabalho, saímos da mata para uma clareira e ficamos observando o avião que começou a voar em círculo e cada vez mais baixo. Vimos quando abriu uma das janelinhas e lançaram alguma coisa, que caiu não muito longe de onde estávamos, corremos para pega-la. Era uma garrafa de vidro presa a um envelope bem grande, dentro dela havia um bilhete. Enquanto o lia, o avião continuava dando voltas sobre nossas cabeças. O bilhete dizia:
" Esperamos você no Aeroporto de Cuiabá - MT, no balcão da Companhia Scala Taxi Aéreo, na Quarta- feira, próximo dia 15. Dentro do envelope tem dinheiro suficiente para você saldar quaisquer compromissos financeiros que você tenha por aqui, e para as despesas da viagem. Abraço, Dr. Júlio Laender e Joaquim Maurício".

Só depois que olhei para cima e levantei a mão direita com o sinal de OK é que o avião rumou para o poente.
Malvino, que era meu braço direito, afirmou de pronto: Já Viiiu ! ? Num vai não, Jorge! Isto num pode ser coisa boa, pois dinheiro num cai do céu atoa. Pode saber que esta empreitada é brava.

Meu espírito aventureiro sorria, e diante da oportunidade de prosseguir, nenhum argumento conseguiria me fazer desistir. Dois dias depois, numa madrugada de lua clara, Deus e eu subimos , numa lanchinha com motor Everudy 25, 120 Km do Rio São Francisco em plena cheia de 1979 até a cidade de Matias Cardoso. E no dia 15 de março , quarta-feira da Semana Santa encontrava-me com Júlio Laender, Joaquim Maurício e o comandante Edmundo “Massa Fina” no Aeroporto de Cuiabá donde decolamos rumo a Alta Floresta onde fomos Pioneiros desbravadores. Lá sentimos na pele, a dura realidade do isolamento, da incerteza, da insegurança, da saudade, da brutalidade, da sensação de caça, da obrigação de caçador e do limite da força de trabalho que experimentaram os nossos antepassados que reverenciamos agora nesta árvore genealógica.

Belo Horizonte, 26 de julho de 2011-07-26

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Eu bebo sim !

Sostênio Tomich, estava em sua gleba de terras, fazenda Passárgada, no município de Alta Floresta-MT, em companhia de Júlio Carlos sommerlatt, que eu chamava de Barrabás. 

Naquela noite de forte tempestade, Sostênio, que havia parado de beber a alguns anos, estava com forte dor de cabeça e febre muito alta, enquanto Júlio Barrabás, que infelizmente voltara a beber, consumia uma garrafa de cachaça.

Apesar de muito amigos, Barrabás, já bêbado, negou-se a sair na chuva para buscar o remédio, anti-térmico, que estava na barraco do empreiteiro Nelson, que ficava a uns 70 metros da casa recém construída, de toras com telhado de taboinhas.

Não vendo outra alternativa, o doente enrolou-se em um pedaço de plástico, e xingando muito, enfrentou o aguaceiro para buscar o remédio. No barraco de lona preta, que o vento insistia em desmanchar e que estava vazio naquele final de semana, com todas as redes encharcadas, encontrou a novalgina e voltou correndo pra casa.

Júlinho, que ficara sozinho, movido pela cachaça, passou a tranca de madeira na porta, fechando-a por dentro, e enquanto o amigo doente, a esmurrava pedindo pelo amor de Deus que o deixasse entrar, descarregava a carabina magnum 357, no telhado e cantarolava; “Eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que não bebe, está morrendo”.

Depois de um longo tempo, quando a caixa de balas esvaziou e Sostênio não sabia se escondia da chuva ou das balas, a porta se abriu e naquela casa, com o telhado todo furado de bala, que chovia mais dentro do que fora, começou uma grande discussão e xingatório entre o abstênio enfermo e o recaido embriagado, até que a febre e o álcool os obrigara a dormir.


Link para o perfil de Júlio Carlos Sommerlatt


Link para o perfil de Sostenio Tomich


Jorge Nei Jamel Edim








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É Deus e a Mãe de Deus...

Numa madrugada comum, de um dia normal, saímos eu, Jorge Edim e  o finado Júlio Barrabás com destino à Fazenda Nova Jurema localizada  a 110 Km de Alta floresta-Mt ,na região de Paranaíta-MT. Naquela época, 1979, na estrada que rasgava na mata, tinha poucos pontos de referência. Depois de dirigir  60 Km, numa curva de 90 graus à direita, tinha o buteco do cearense,  que nos atendia a qualquer hora do dia ou da noite para vender, jabá, sardinha, mortadela e cachaça. Do lado esquerdo da estrada, 15 Km à frente, tinha uma serraria de um gaucho, que laminava a madeira para fazer compenssados. Passamos por ela já com os primeiros raios de luz. Uns dois km adiante, numa pequena descida, a estrada era cortada por um pequeno igarapé. Reduzi a velocidade, engrenei a segunda marcha e assim que as rodas dianteiras tocam a água ouvimos um estampido de carabina. Abrimos as portas da caminhonete e pulamos um para cada lado da estrada, buscando as árvores mais grossas para escondermos. Silêncio absoluto, armas em ponho, eu com um Colt  Python 357 com o cano ventilado e Júlio Barrabás portava um Smith & Wesson  de cano longo, calibre 38, encontrado junto ao corpo de um garimpeiro assassinado na mata. Esperamos um bom tempo e como nada se movia, saímos cautelosamente  e resolvemos continuar a viagem. Virei a chave e nada de arranque, tentei de novo e nada.

Abrindo o capô, percebi uma coisa muito incomum; Os cabos de velas estavam todos enrolados em torno do distribuidor, que é fabricado para dar no máximo ¼ de volta sobre o seu eixo. E ali estávamos nós, diante de um carburador que dera várias voltas, como se não existisse o ressalto limitador.

Voltamos à pé para a serraria onde fomos recebidos pelo proprietário, um alemão alegre, de ar sereno, sempre pronto para servir, como era natural aos moradores da floresta, que depois de ouvir-nos, convidou-nos para tomar café com pão de caçarola.

Ao saber que eu era o Jorge do projeto de cacau, demonstrou-se preocupado e contou-nos que naquela noite, dormiram na sua serraria, um grupo de garimpeiros, que no bate-papo durante o jantar,  na noite anterior, disseram estar com o firme propósito de matar-me e que para tanto, me esperariam, hoje pela manhã,  nas proximidades da fazenda.

Contamos a ele toda a nossa história e os porquês dos garimpeiros desejarem nos matar, insuflados por falsos colonizadores que buscavam o lucro do garimpo , e de forma inescrupulosa  colocavam os garimpeiros contra nós  agricultores, para inibir nossa presença nas áreas de maior produção de ouro.

Ele chamou os empregados, que já se movimentavam para iniciar as tarefas do dia, apresentou-nos e esclareceu nossa situação, para que todos, a partir daquele dia sabendo da verdade, a divulgassem, para os muitos garimpeiros que ali pousavam, o que contribuiu sobre maneira, para a nossa melhor convivência com a comunidade garimpeira que gradativamente tornou-se nossa amiga e  parceira.

Colocamos o carro no caminhão da serraria com ajuda de um trator equipado com um poderoso guincho e voltamos para a cidade em companhia daquele madeireiro bom e sério que passou a ser um grande amigo.
Ao entregarmos o carro para o mecânico, constatamos que se tratava de um fato impressionante, pois o mecânico não entendia como aquele distribuidor dera tantas voltas sobre o próprio eixo. Segundo ele, no mínimo, foi necessária uma força extraordinária.

Com certeza, esta FORÇA foi mais uma manifestação do  DIVINO ESPÍRITO SANTO na proteção da nossa vida.

Jorge Nei Jamel Edim

Link para o meu perfil.

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Meu primo, Júlio Carlos Sommerlatt, conhecido como Julinho, nasceu órfão de pai e recebeu o carinho de toda a família e atenção especial do tio solteiro Raynold sommerlatt, conhecido como Renol, que  lhe devotou a atenção de um pai, proporcionando-lhe várias chances para estudar tanto em Teófilo Otoni como em Belo Horizonte.

Júlio, boêmio juramentado, preferiu viver sua adolescência, aproveitando os prazeres em roda de bares e entre as mulheres. Ele contou-me, como uma confissão de arrependimento, que em Belo Horizonte , freqüentava os bares do edifício Maleta, junto com a turma do seu primo, Nuno Sommerlatt Barbosa, conhecido como “Chefe Nuno”,  a quem , acompanhava nas farras mas não o imitava nos estudos, gastando suas mesadas sem nenhum rendimento na escola, tendo que voltar para  Epaminondas Otoni, (Colônia Militar do Urucu ) onde nascera.

Tentou trabalhar no Projeto JARI do milionário Daniel Ludwig, na Amazônia, onde seu primo Wilberto Sommerlatt Barbosa “Diba”, tinha um cargo de chefia,  mas não obteve sucesso.

Eu, que o chamava de Júlio Barrabás, convidei-o para trabalhar conosco no projeto de cacauecultura em alta Floresta no Mato Grosso a 870 km ao norte de Cuiabá-MT.  Foi meu grande companheiro, responsável pela  contabilidade, percorríamos diariamente, desde a madrugada até noite fechada, as áreas de implantação da lavoura que ficavam em três locais diferentes.

Eu, menino de 25 anos, destemido, saudável e muito agitado, levantava-me de madrugada, tomava um cafezinho magro, às vezes só com língua e adentrava na mata densa sem me preocupar com o que ia comer durante o dia. Visitava uma  das fazendas na parte da manhã  e na maioria das vezes, quando os homens paravam para almoçar, eu seguia viagem para outra área, aproveitando o horário de almoço para o deslocamento, aproveitando a tarde para fiscalizar o trabalho, com os trabalhadores  em pleno exercício das suas tarefas. E quando eles paravam para jantar, eu tinha que pegar a estrada, retornando  a cidade para providenciar os materiais necessários para os dias seguintes. A logística não podia falhar, pois se faltasse algum material, vários homens paravam e  o cronograma ia para o brejo.

Barrabás, acompanhou-me no seu primeiro dia de trabalho, não queixou-se, mas no dia seguinte ele me fez um grande favor, que com certeza reflete na minha boa saúde para sempre, passou a preparar a nossa matula com lanches fartos com uma boa garrafa de café e cantil com água fresca. Contou-me então que tinha uma úlcera e que não podia ficar com o estomago vazio por longos períodos.

Estávamos em uma área rica em ouro, e portanto, vivíamos em constante conflito com os garimpeiros e compradores de ouro com um alto índice de assassinato. Barrabás, que durante nossas viagens diárias, ouvia o Programa do garimpeiro, da Rádio Nacional, onde as famílias pediam notícias dos parentes que estavam nos garimpos, passou a pegar os documentos nos bolsos das roupas de todos os mortos que eram encontrados na mata ou nas estradas que davam acesso aos garimpos, e postava-os nos correios, endereçados à Rádio Nacional, com um bilhete descrevendo o local exato  em que o corpo fora encontrado. Segundo ele, era um serviço de utilidade pública.

Num domingo, Barrabás descascava, sentado na cabeceira da sua cama  enquanto eu limpava uma carabina  Magnum 357, descontraidamente o cano da arma apontou pra seu rosto e ele, empurrou o cano da mesma, com as costas da mão, exatamente no momento em que a arma disparou. Eu fiquei paralisado, sem graça , ele que era muito vermelho, ficou branco feito uma cera, Sostênio Tomich que morava conosco, pediu calma, chamou minha atenção para o perigo de manusear arma perto de pessoas e fomos ver a trajetória da bala; Pegou na parede de táboas a 3 dedos da cabeça de Júlio Barrabás, atravessou 3 cms de angelin pedra, atravessou um pilar de madeira dura de 12 cms, pegou na dobradiça de latão do portão que se enrolou como se fosse um papel amassado na mão e subiu num anglo de mais de 45º o que evitou que atingisse uma casa que ficava em frete.

Toda as suas economias, eram guardadas em jóias, fabricadas por Tetéu, um ourives nosso amigo. E sempre que ele ia a Cuiabá, parte das sua jóias ficavam com as mulheres na zona boêmia mais cara do Brasil.

Logo que terminamos de implantar o projeto, me dediquei ao garimpo, fui morar em Serra Pelada e ele voltou para Teófilo Otoni, onde passou a trabalhar com um amigo nosso, Sr. Abdala, na Revena, uma concessionária da Volkswagen, até o dia do seu falecimento.

Que DEUS o tenha Julinho.

Jorge Nei Jamel Edim

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Apeia do carro, Seu Moço,Vem cá.
Vem conhecê meu chão.
Vem vê de perto a natureza
Adonde Deus criô a beleza,
Quando fez este Sertão.

Senta in riba dos arrêio
Desse macho marchadô.
Mai, vamo andá de vagazin,
Amód nóis vê as fulô, no camin,
Donde brinca a beja-frô.

Já vem ropeno a aurora,
A Natureza disperta.
O chêro gostoso de mato,
As água clara do regato
Faiz a abertura da festa.

É o cantá do sabiá,
O piá da juriti,
O grito da maracanã,
Sodano alegre a manhã
Tomém canta um bem-ti-vi.

E um ristin de sereno
Ainda cai lá do céu.
Tem cerração lá na serra
E a mata tudo se incerra
Na brancura deste véu.

Nas paióça, a fumacinha
Sobe pelas chaminé.
Na sala, na camarinha,
Vem chegano da cuzinha
Um chêro fote, de café.

É logo ali que eu moro, óia,
Naquela casa branquinha.
A muié já tá de pé.
Já fez um bule de café
Qui é pa nóis tomá
Cum farinha.

Tem um queijo bem curado,
Tem broa de fubá,
Tem mandioca, tem batata,
Um leite gordo e com nata,
Já veio lá do currá.

Já cumeu? Tá sastifeito?
Antão... vem comigo pu terrêro.
Eu vô aguá minhas prantinha,
Vô tratá das minha galinha
E dos porco, no chiqueiro.

Dispois, 
Eu vô te mostrá meu mundo,
Adonde eu vivo cum prazê.
Vamo passá pelo pomá,
Óia, quanta fruta tem lá,
Cê quisé... pode cuiê.

Aqui fica nossa horta.
Tem legume, tem verdura,
Nosso paió tá chiin,
Tem de tudo um mucadin.
Nóis sempre gozô de fartura.

Pôco arriba da paiada,
Pricipia o cafezá.
Óia o povo trabaiano,
Tá tudo alegre, cantano,
Nem vê o tempo passá.

Iscuita: É a musga chorosa
De um carro de boi, a cantá.
Qui vem cum cana, pro ingên,
Qué dum canaviá queu tem,
Naquela virada de lá.

Chega cá perto da tacha,
Vem prová puxa batida,
É doce puro, sem mistura,
Tirado da cana pura,
Só faz bem pra nossa vida!

Garra a vara, o anzó,
Vamo lá no reberão?
Oi, lá tem cará, tem mandi,
Tem traíra, lambari,
Nóis pega pêxe de montão.

Agora, nóis pega esse arrastão,
Pra vê o mato de perto.
Inhantes qui uma mão criminosa
De gente má, gananciosa,
Faiz tudo virá um diserto.

Óia... Quanta parasita,
Carregadinha de fulô!
Rispira esse chêro gostoso
De tudo que Deus Poderoso
Pra dá pus home... criô.

Senta ai, nas fôia seca,
Qui cobre tudo esse chão.
Vem gozá a tranqüilidade,
Qui nun ixiste na cidade,
Foi feita só pro sertão.

Óia aí... a mina dágua,
Qui nasce no pé da serra!
Cê tá cum sede, meu patrão?
Bebe na concha da mão
A água qui nasce da terra.

Já é hora do armôço.
Vai na bica, lava as mão,
Pega o prato na misinha
Qui a cumida tá quentinha,
Tudo in riba do fugão.

Óia... tem um frango cum quiabo,
Um angu, bem amassado,
Tem arrôiz, côve rasgada,
Tem lingüiça, carne assada,
Um fejãozin bem temperado.

Agora, cê bebe um cafezin
E cende um cigarro de paia.
Vamo chegá na varanda,
Que ali, naquela banda, 
Já tem uma rede de maia.

Enquanto essa rede balança,
Nóis podemo proziá.
Contá causo das boiada,
Lembrlá das coisa passada
Qui nunca mais vai vortá.

Dispois, 
Nóis aparta os bizêrro
Qui tá junto da vacada.
Qué pra amanhã bem cidin
Tirá o leite fresquin,
Mód fazê queijo e cuaiada.

Vamo até na cachuêra,
Lavá o pó desse dia.
A água, tão limpa, tão pura,
Caino lá das artura,
Nos dá frescô... e aligria.

A tarde já vem chegano.
E, cum ela, a passarada.
Qui, com muita canturia
Vai dispidino do dia
Lá no meio da ramada.

Vamo garra na viola?
Tocá uma duas mudinha?
Senta aí, no dregau da iscada,
Prestatenção na tuada
E no são da violinha.

É hora da Ave Maria.
Pru favô, tira o chapéu.
Pela vida e pelo pão,
Vamo fazê uma oração,
Pra Nosso Deus, 
Lá no céu.

Agora, nóis vai dispidi.
Perta essa mão calejada
De um trabaiadô da roça
Qui véve feliz, na paioça,
Nessa terra abençuada!

Vórta lá pra sua cidade.
Mas guarda essa beleza
De um mundo abeçuado,
Onde vive um povo honrado,
Que põe o pão... na sua mesa!


                                 Autor: Compadre Lemos
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Colonos  Holandeses ( Beaucourt ) no vale do Mucuri.

Na Europa era comum dizer: “Cuidado, senão eu te mando para o Mucuri!”, avisavam os pais quando os filhos eram desobedientes, pois ser mandado para o Mucuri era a pior coisa que poderia acontecer a alguém. Foi o que aconteceu ao grupo de 162 holandeses e belgas. Eles chegaram no mês de julho de 1858 a São José do Porto Alegre, ao norte do Espírito Santo na divisa com o estado da Bahia.
Assinaram um contrato com a Associação Central de Colonização em Zeeland, Antuérpia ou no Rio de Janeiro. Porque e por quais motivos essas famílias foram para o Mucuri e as outras para Rio Novo não está claro.
Uma lista foi trazida pelo frei franciscano Olavo Timmers (1901-1990) que trabalhou como missionário naquela região e que em 1966 estava de licença na Holanda. Ele foi o primeiro a divulgar a presença desses holandeses no vale do Mucuri. Os nomes ele tinha copiado de um relatório da Companhia do Mucuri feito quatro anos depois da chegada em 1862. O relatório incluía 12 casais e 51 crianças, todos da província de Zeeland vindos de Schouwen Duiveland e Zuid Beveland.
A intenção era a de que os ‘Colonos Beaucourt’ reforçassem a população da Colônia Militar do Urucu. Essa colônia militar fica no caminho de Santa Clara a Filadélfia, atualmente Nanuque e
Teófilo Otoni.
O que estas famílias tiveram de enfrentar é difícil até de imaginar. A Companhia do Mucuri é responsável pelo transporte a partir do Rio de Janeiro. Com uma pequena embarcação e alguns barcos rebocados para a bagagem eles navegam pelo rio Mucuri em direção ao interior até chegarem a primeira grande cachoeira, no assentamento Santa Clara. Lá eles são acomodados
em um galpão.
A última etapa da viagem deve ser feita a pé. A bagagem vai em carros de boi. Esse primeiro contato com a mata atlântica é cruel para as famílias de Zeeland. Os seus corpos, pele, olhos e ouvidos não estão preparados para isso. Árvores imponentes, um emaranhado de folhas
ligadas por cipós não deixam os raios do sol passarem, arbustos e todo tipo de obstáculos impedem a passagem. Mosquitos e estranhos insetos os rodeiam e formam verdadeiras nuvens que tentam penetrar via boca e nariz. As roupas compridas e quentes de Zeeland os protegem um pouco. Por causa do calor e do perigo de serem de repente atacados por índios que se escondem na mata, eles caminham à noite por trilhas recém desmatadas.
Depois de terem se arrastado dessa forma por noites a frio, os imigrantes finalmente chegam à Colônia Militar do Urucu. A viagem durou seis dias desde a partida do porto.
Colônia Militar Urucu
O diretor da Colônia Militar, capitão Manoel Joaquim de Barros, se encontra acamado, seriamente doente, e sem condições de organizar o alojamento dos holandeses. Eles dependem então dos
escrúpulos de militares de baixo escalão. Os imigrantes dormem como soldados em casernas em camas de madeira, mulheres e crianças separadas dos homens. Comida é racionada devido à seca predominante. Alguns homens são levados ainda mais adiante na mata praticamente impenetrável, com todo tipo de insetos rastejantes, puladores e voadores. Eles realmente estão no inferno verde. Os soldados indicam: desta árvore até aquela é sua propriedade e daquela até a outra é a do seu vizinho. Machados e enxadas são distribuídos. Famintos, os imigrantes têm que limpar uma parte da mata sem nenhum outro recurso, sem a força dos cavalos ou bois.
Nunca antes eles viram árvores tão grandes e tão perto uma das outras. Um gigante desses, mesmo depois de ter sido cortado dos dois lados, ainda fica de pé, pois a copa está ligada a outras árvores através de cipós. Para conseguirem abrir uma clareira na mata às vezes é preciso cortar de seis a 12 árvores. Uma rajada de vento ou oscilação de uma das árvores pode fazer com que todas venham abaixo ao mesmo tempo com um estrondo que pode ser escutado há quilômetros do local. Estalidos de galhos que caem, um redemoinho de folhas e poeira. Uma revoada de pássaros. Situação assustadora.
Sem recursos os Zeeuwen simplesmente não conseguem fazer o serviço. Do quartel não vem nenhum tipo de ajuda. Até que finalmente Teófilo Otoni, o diretor da Companhia do Mucuri, coloca alguns escravos e bois à disposição. Esses escravos são experientes. O que não pode ser usado da madeira derrubada é queimado. Depois disso, as raízes desses gigantes da mata, que muitas vezes têm centenas de anos, precisam ser retiradas e o solo preparado para o plantio. Somente depois de tudo isso é que se pode começar a semear, plantar e esperar pela chuva.
Enquanto isso, eles constroem casinhas com troncos e argila e, se tudo correr bem, alguns meses depois já será possível colher feijão e milho. Até esse dia, comida seria distribuída. Apesar de suas preces e súplicas, a chuva não chega. A conseqüência disso é a falta de alimentos e também de leite para as crianças.
As pessoas são atormentadas pela malária, febre amarela e tifo, sofrem com feridas provocadas por bichos de pé, carrapatos e outros insetos desconhecidos. Na Colônia Militar, além de soldados brasileiros, eles encontram alguns índios, trabalhadores chineses contratados
e imigrantes de Madeira. Imigrantes chegam a todo o momento sem controle algum, todos com o mesmo sonho de uma vida próspera num paraíso tropical. O sonho se transforma em um pesadelo com doenças, mortalidade infantil, desilusão, alcoolismo, fome e morte. Suas forças, energia e coragem desaparecem como que engolidos pela terra.
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Papai noé, os menino me contaram
lá na escola onde eu vô,
que o senhô atende os pedido
dos rico dos pobre oprimido
mandado por nosso Senhô.
Me contaram inté que é
só ponha capim em baixo da cama
e drumi prá esperá.
Mais papai noé prá começá
nem cama eu tenho prá mim drumi
eu tenho é uma estera véia
remendada que dá pena inté de oiá.
Brinquedo intão nem é bão falá
trem de ferro,aeropraninho,sordadinho
eu só cunheço de nome
só de ouvi as outra criança cumentá.
Que vale que o pai falô
que a inveja num tem valô
pro caboclo lutadô.
Mais eu te juro papai noé
quando eu escuito uma criança
do meu bairro cumentá
eu sinto que o micróbio da inveja
cumaça logo a me atacá.
Ói papai noé,pro senhô eu num tenho segredo
inté hoje eu só tive dois brinquedo;
Primero tive um potranco
que era todinho branco
e bonito como que
mais depois os negócio apiorô
e o pai teve que vendê.
Despois me deram o pinhão
esse cachorrinho bão
que mi ajuda adiverti
nas agua do riberão
nadando daqui prá lí
há! o senhô persisava vê papai noé
quando eu dô um merguião
custando pra parecê
num é de vê
que o danado do vira-lata
lati desesperado
pensando que eu vo morrê.
Mais ói,papai noé,
já que nóis temo prosiando
já que a gente ta cunversando
o meu pedido eu vou fazê;
Faz a minha mãe alevantá
faiz dois ano que ela num sabe
o que é natá.
Faiz dois ano que a coitada
passô a tussi,tussi
num isforço danado lá na cama
prá podê arresistí.
Se o senhô me atendê
eu podia inté lhe entregá
o meu único amigo bão
o meu cachorrinho pinhão
que eu custei tanto a ganhá.
Mais o senhô pode ficá com ele ou então
fazê presente pra outra criança
que o senhô quisé dá.
eu te prometo fica cuntente
memo com vontade de chorá
mais óia papai noé;
Num esqueça o meu pedido
quando chegá o natá
pru favô:
Faiz a minha mãezinha sará

                                                     Autor: Lulu Benencase
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Adespois de tanto amô,

De tanto beijo gostoso

De tanto chêro cheroso,

Nóis briguêmo.

Foi uma briga fatá.

Ela me disse: Acabou-se.

Eu disse: isso mêmo:Acabou-se...tudo.

E nóis dois fiquêmo mudo

Sem vontade de falá.

Cada um fez sua trôxa

E na hora da partida,

Nem se oiêmo.Xinguêmo.

Sim...nôs xinguêmo

Cumo se póde xingá:

---Eu te odeio

---Eu te desprezo

---Bába de cururu.

---Mandinga de sapo seco.

Ocê vai prô Norte?

Eu vô pro sul.

Nunca mais quero te vê...

Nem noticia quero tê.

Eu juro pro Deus do céu...

Nunca mais quero te vê

Nem pintada de caivão

Lá no muro do quintá...

E se eu contigo asonhá

Acordo e faço três crui...Crui...crui...crui.

O Brasí é muito grande

Dá bem pra nôs separá

Ela engoliu um saluço

Eu engoli bem uns quatro...

E larguei o pé no mato

Passou-se tanto tempo

Que nem é bão recordá.

Onti nóis dois se encontrêmo.

Ninguém tento desfarça.

Eu parti pra riba dela

Com um fogo ascêso no oiá

Ela me deu um arrôxo

Que se eu sô um cabra frôxo

Tava aqui em dois pedaço.

E foi tanto bejo gostoso

Foi tanto chêro cheroso.

Entonce nóis se alembrêmo

---O BRASÍ é tão pequeno,

Não dá pra nôs separá.

                                               Autor: MarilitaPozzolli
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Hoje aqui, oiando pra vancê meu pai,
To me alembrando quanto tempo faz
Que pela primeira vez na vida, eu chorei.
Não foi quando nasci pru que sei que vim berrando...
E disso ninguém se alembra, não.
Foi quando um dia eu caí...levei um trupicão,
Eu era criança. Me esfolei, a perna me doeu,
Quis chora, oiei pra vancê, que esperança.
Vancê não correu pra do chão me alevanta.
Só me oiô e me falô:
---Que isso, rapaz ? Alevanta já daí...
HOMI NÃO CHORA.
Aquilo que vancê falô naquela hora,
Calou bem fundo, pru que vancê era o maió homi do mundo.
Não sabia menti nem pra mim nem pra ninguém...
O tempo foi passando...cresci também...
Mas sempre me alembrando..
HOMI NÃO CHORA.
Foi o que vancê falô.
O mundo foi me dando os solavanco,
Ia sentindo das pobreza os tranco...
Vendo as tristezas vorteá nossa famía,
E as vêiz as revorta que eu sentia era tanta,
Que me vinha um nó cego na garganta,
Uma vontade de gritá...berrá, chorá...mas quá..
Tuas palavra, pai, não me saía dos ouvido..
HOMI NÃO CHORA
Intão, mesmo sentido, eu tudo engolia
E segurava as lágrima que doía...
E elas não caía, nem com tamanho de Quarqué uma dô...
Veio a guerra de 40...e eu tava lá...um homi feito,
Pronto pra defendê o Brasí.
Vancê e a mãe foram me acompanhá pra despedi.
A mãe, coitada, quando me abraçô, chorô de saluçá.
Mas, nóis dois, não.
Nóis só se oiêmo, se abracêmo e despedimo
Como dois HOMI.
Sem chorá nem um pingo.
Ah, me alembro bem... era um dia de domingo.
Também quem é que pode esquecê daquele tempo ingrato ?
Fui pra guerra, briguei, berrei feito um cachorro do mato,
A guerra é coisa que martrata..
Fiquei ferido...\com sodade de vancês...escrevi carta
Sonhei, quase me desesperei, mas chora, memo que era bão
Nunca chorei...
Pruque eu sempre me alembrava daquilo que meu pai falô:
---HOMI NÃO CHORA.
Agora, vendo vancê aí...desse jeito...quieto..sem fala,
Inté com a barbinha rala, pru que não teve tempo de fazê..
Todo mundo im vorta, oiando e chorando pru vancê...
Eu quero me alembrá...quero segurá...quero maginá
Que nóis dois sempre cumbinemo de HOMI nÃO CHORÁ...
quero maginá que um dia vancê vorta pra nossa casa
Pobre..e nóis vai podê de novo se vê ansim, pra conversá
Intão vem vindo um desespero, que vai tomando conta..
A dô de vê vancê ansim é tanta...é tanta, pai,
Que me vorta aquele nó cego na garganta e uma lágrima Teimosa quage cai..
Óio de novo prôs seus cabelo branco...e arguém me diz
Agora pra oiá pela úrtima vez..que ta na hora de vancê
Embarcá.
Passo a minha mão na sua testa que já não tem mais pensamento....
e a dô que to sentindo aqui dentro,
Vai omentando...omentando, quage arrebentando
Os peito...e eu não vejo outro jeito senão me descurpá.
O sinhô pediu tanto pra móde eu não chora..HOMI NÃO CHORA...
o sinhô cansô de me falá...mas, pai,
Vendo o sinhô ansim indo simbora...
me descurpe, mas,Tenho que chora.

                                                 Autor: Rolando Boldrin
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