VIAGEM INSÓLITA :

Dr. Júlio Laender, Edimar Cantão e Eu, Jorge Edim, voltávamos de Alta Floresta – MT com destino a Cuiabá - MT, a bordo de um Cesna-310 sob o comando do experiente capitão Tejima, que consciente do risco de voar sobre o exuberante manto verde da Amazônia, num dia tão chuvoso quanto aquele, mudou de rota e rumou para a Base aérea da Ilha do Bananal no rio Xingu-MT onde aterrissamos, antes do meio-dia, com muita dificuldade visual e sob uma tremenda tempestade. Vários outros aviões já se encontravam resguardados, naquela pista alternativa, alguns já, há mais de 24 horas, e seus comandantes nos interpelaram indagando sobre os motivos que nos fizeram desafiar tamanho mau tempo, por um voo longo sobre uma floresta tão perigosa. O comandante de um Queenair , aeronave canadense, toda equipada para enfrentar condições adversas em áreas perigosas, repreendeu o comandante Tejima e nos aconselhou a pernoitar na Ilha para esperar que o tempo melhorasse.
Não tive dúvidas. Acomodei-me no balcão do boteco dos índios, onde serviram cachaça e sardinha, que desceu como verdadeiro calmante depois de uma aventura tão estressante.
Dr. Júlio Laender, manifestou para o comandante Tejima, seu desejo de chegar em Belo Horizonte ainda naquele dia, dizendo: “Eu precisava chegar em BH ainda hoje”. O comandante, olhou para o céu cinzento e disse com ar de contrariado e corajoso; se é para decolar tem que ser agora.
Não tive tempo para tomar a segunda dose. Dr. Júlio e Edimar sentaram no banco traseiro e Eu embarquei, assumindo o assento de copiloto sob o protesto de todos os tripulantes dos demais aviões ali presentes.
Taxiamos como se brigássemos com a chuva torrencial. Corremos toda a pista e assim que saímos do solo, dois raios cortaram os lados direito e esquerdo da aeronave. Dr. Júlio disse: É comandante, se você vir que não dá, pode voltar. A resposta veio de imediato: “Agora num dá mais, é impossível enxergar a pista.”
Recebi do comandante a tarefa de segurar firme as duas manetes que teimavam em dançar de um lado para o outro. A formação de gelo era tão grande que dificultava a rotação das hélices. Se o comandante tentasse subir com a aeronave, encontrava a resistência do gelo das nuvens ( CB ) caso descesse, corria o risco de bater nas árvores mais altas, tudo isto às cegas, pois balançávamos de forma impressionante dentro de uma massa cinzenta capaz de nos levar ao limite do medo.
Em determinado momento o compartimento de bagagens quebrou e as malas caíram sobre nós aumentando o caus. Foi quando Edimar, segurando o cordão de ouro muito pesado, disse: “Eu devia ter deixado meu cordão e meu rolex para Juninho!”

Depois de quarenta e cinco minutos, sacudindo como se fossemos um cisco, no núcleo de um CB ( cúmulo-nimbo, nuvem escura com grandes formações de gelo ), recebemos um esculacho da torre de controle de Brasília-DF dizendo que estávamos voando perigosamente sobre a capital e em meio a um tráfico de aviões grandes que posavam por instrumento e que devido a visibilidade zero, poderiam colidir conosco. O comandante, já completamente esgotado, não deu ouvidos, e sabendo que sobrevoava a capital que não tem montanhas nem grandes arranha-céus iniciou um descida cega na tentativa de visualizar alguma coisa que o orientasse. Já que trabalhava em Brasília-DF há muitos anos. Deus guiou seu manche e ele pousou sob os protestos da torre de controle. Assim que taxiamos, percebendo o desgaste físico do comandante Tejima, corri para o balcão da VASP ( Viação Aérea São Paulo ) e comprei duas passagens do trecho Brasília-DF para Belo Horizonte-MG, em nome de Júlio Laender e Edimar Cantão. Voltei para o angar onde estavam o Cesna-310 e os parceiros de aventura, para os quais entreguei os bilhetes e me despedi dizendo: “bom voo para vocês que têm que chegar hoje em BH, eu irei de ônibus para Marabá. Graças a DEUS!”

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