Eu quero voltar pra casa, meu pai.
Quero voltar.
Num sei qui rumo tomá
Depois de tanto girar,
Esqueci ou mesmo desconheço
O meu primeiro endereço
A luz donde fui brotá.
Eu vim lá do sertão
Entrei nesta multidão
Que atravanca este planeta
Sem um cartão, sem uma plaqueta
Sem quarque indicação, tonto fique,
num sei vortá.


A vida é cheia de desengano
E eu com sessenta anos
ainda num sei falá.
É costume se ter piedade
Duma criança perdida
Tonta e estranha na cidade,
Todo mundo tem dó de mim, todo mundo
Porque dó é humano e todo mundo é hunano,
nascido e marcado pro mesmo fim.
Já quizeram inté me levar me levar pra casa
Quizeram sim.
Pros meu pais, pros meus mano
Mas eu com sessenta ano
Ainda num sei dizer de onde vim.

E não é que eu desconheça que nasci feio,
enrrugado, pequtitim, desdentado,
sem cabelo na cabeça
pois bem; esses mesmos dados
me servem hoje como já serviram;
Meus cabelos caíram
Os meus dentes, acabaram
E as rugas ?
Se eu crescendo sumiram, envelhecendo vortaram.
E se se nasce chorando,
Eu posso te dizer também
Que eu choro de quando em quando,
mas choro com o ninguém.

Ah..mamãe, grita..Jorginho!!!!
Pai, Grita..ô menino,
A mãe chama o filho vai
O pai chamou ? Este é o caminho.
Mas, eu apuro os ouvidos
E um triste silêncio cai.
To perdido...perdido..
Não tenho nem mãe nem pai.

Vivo ? Acho que estou vivo.
Mas sem um objetivo
De quem vem ou de quem vai.
Nada me dá um motivo
Nada me prende ou me atrai.
Nada me empurra ou me abrasa
Pra poder continuar
Eu quero voltar pra casa..
Já com pouco amor..a fé muito rasa..
Papai e mamãe sem me chamar
Eu quero voltar pra casa
Mas esqueci o lugar.

                                         Autor: Giusepe Chiaroni

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