Numa noite de São João,
na fazenda do Lagedão,
foi qui nós dois se topô.
Vancê tava mais formosa,
qui nem o cravo e a rosa
qui é a rainha das flô.


Vancê afitô meus oiá,
qui vei os meu se incontrá
e naquele instante e momento.
Eu sinti uma afrição
e um fogo no coração
qui me quemava tudo p’ro dentro.

Foi ai qui cumeçô
a história do nosso amô
qui muito cedo morreu.
Meu coração foi p’ra Lá,
o de vancê vei p’ra Ca
e nos dois se comprumeteu.

Vancê jurava p’ra mim,
que me tinha amô sem fim
e qui outro nunca quiria.
Vai, acontece, eu acreditei,
e nunca pois eu pensei
qui de mim vancê isquicia.

E sem um pingo de dó,
vancê dexô ficá só,
meu coração retaiado.
Um peito qui só viveu
qui teus anos padiceu
por este amo tão sagrado.

Mais vancê num foi curpada,
foi a sorte margurada
qui nois dois se separô.
Foi o povo mardizente
dessas língua de serpente
qui fez caba nosso amô.

Foi também as vaidade,
influênça da cidade,
foi o rujo, o batão.
Foi os vestido rendado,
as dança de baiado,
as modinha e os violão.
Vancê p’ra passiá,
nos club de dançá,
qui usa La p’ra cidade.
Aprendeu até dança suíno,
essa dança nova de argentino,
tuliça! só vaidade.

Aprendeu umas coisa feia,
anté raspá sombrancêia,
p’ra depois passá carvão.
Levava a vida cantando,
e nas unha só passando,
um lustro de vermeião.

Ela hoje se mudô,
nem pensa mais nos amô,
qui nos fez tanto chorá.
Passa p’ru mim nem conhece,
nem se lembra mais das prece,
qui fizemos p’ra casá.

Já se esqueceu dos bilhete,
das fulô, dos ramalhete,
da grinalda e do véu.
Com certeza ela queimô
ou no monturo ela jogô
o laço do meu chapéu.

Ta tudo pois terminado,
só me resta retratado
esse amô no coração.
Que nunca posso isquecê,
inté na hora de morrê,
do nosso amô de São João.

Foi se embora meus amô
e resta a cinza como vê.
Mais porém meu coração,
toda noite de São João,
inda bate p’ra vançê.

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