A grande preferência pela carne de PACA, fez com que,
tanto os povos nativos quantos os conquistadores, tentassem criar este roedor,
desde tempos bem remotos, porém de forma tímida, tanto no número de animais, quanto
no emprego de manejo adequado à espécie.
Sabe-se que a Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação, promoveu e incentivou os estudos para identificar as
espécies de animais silvestre passíveis de serem criadas em cativeiro, visando
uma maior disponibilidade de alimento proteico às populações rurais de baixa
renda. O que incluiu a PACA dentre o grupo a ser estudado.
Alguns estudiosos, depois de muito trabalho, chegaram a
conclusão que este roedor poderia ser uma boa opção, bastando, aprimorar as
técnicas para atingir um maior adensamento populacional, em cativeiro, ou seja,
criar o maior número de animais por área. Uma meta bem otimista seria 1
indivíduo por metro quadrado.
Tais técnicas, consistem em modificar os padrões de comportamento
natural da espécie, como; hábitos noturnos, vida solitária, intolerância a
indivíduos da sua espécie, independente do sexo, vida nômade e comportamento
altamente arisco, o que exigiria um alto custo com a construção das instalações
que teriam de contar com baias relativamente caras, para abrigar apenas um
animal.
Todo o trabalho destes respeitáveis pesquisadores, foi de
grande importância, para a divulgação dos conhecimentos que favoreceram as
criações racionais de diversos animais silvestres que vieram aumentar o leque
de oportunidades para disponibilizar proteína de qualidade para as populações
rurais de baixa renda, que consiste a realização do nobre objetivo da F A O.
As técnicas divulgadas, ajudaram muitíssimo, para diminuir
a ação predatória sobre os animais em estado silvestre (O que já justifica todo
esforço e tempo), e para disponibilizar uma carne nobre e muito saborosa à
população com melhor situação socioeconômica, devido ao alto custo dos
investimentos e do custeio, numa atividade de baixíssima produtividade.
Porém, as populações de baixa renda nunca conseguiram
criar esta espécie, de forma econômica, nem parou de caça-la, mantendo-a na sua
dieta. Pois o adensamento populacional
deste roedor vem diminuindo significativamente devido as ações dos caçadores,
desde longa data, pois a sua saborosa carne, atraiu a atenção tanto dos
indígenas, quanto das populações rurais que viviam em fronteiras agrícolas,
quase sempre desbravando as matas, e as caçavam para garantir o sustento das
famílias. Também os grupos de garimpeiros, seringueiros e madeireiros quase
sempre com grandes contingentes de trabalhadores que eram alimentados com o
resultado das caçadas profissionais. Assim a fauna sofria com a matança
indiscriminada e com o desaparecimento do seu habitat natural que são as matas
e os bosques. Estima-se que o número de pacas por Km² das matas e bosques
do território brasileiro no início do
século XX, era de 60 indivíduos aproximadamente. Contam os camponeses que na
década de 1950 na região sudeste, uma dupla de caçadores, regressavam de uma
caçada com até 10 animais abatidos em uma única noite, hoje na mesma região e
escolhendo os locais de maior incidência deste roedor, os caçadores
clandestinos consideram-se com sorte quando conseguem abater um animal.
Segundo (RENGIFO et al. 1996) a dieta da população rural e
urbana da região amazônica contém 14 %
de carne de paca. Neste mesmo ano o
pesquisador registrou o consumo
de 35 exemplares em um ano por uma família da floresta amazônica, e que na cidade
de Iquito no período de um ano entre 1986 e 1987 foi comercializado nos
principais mercados
Como se não bastasse, as caçadas aos animais cada vês mais
raros, passou a ser uma diversão apaixonante para muitas pessoas, cujo objetivo
não passava do prazer de matar para gabar-se nas reuniões de amigos, onde
conquistaram junto com os pescadores a fama de grande mentirosos. Com o
aparecimento das leis que protege a
nossa fauna, e a gradativa conscientização principalmente das crianças, da
necessidade de preservar o meio ambiente, estes caçadores estão desaparecendo,
ficando apenas os que à margem da lei, correm o risco de serem presos, mas
continuam com a caça clandestina cujo produto é vendido para alguns
restaurantes que financiam criminosamente esta atividade predatória em troca de
preços irrisórios.
E como afirmamos, os agricultores com melhor condição
econômica, usando as técnicas divulgadas pelos valorosos pesquisadores, puderam
melhorar bastante a produtividade destes animais, quando, a partir de 1993, no
Brasil. O IBAMA normatizou os CRIADOUROS DE ANIMAIS SILVESTRES, presenteando
assim toda a nossa fauna com uma atitude verdadeiramente protetora, já que com
a disponibilidade de animais legalizados para os conservacionistas, para a
estimação, para os trabalhos científicos e para o abate, diminuiu tremendamente
a caça predatória sobre as populações silvestres que já sofrem com a redução do
habitat natural como matas, capoeiras e mananciais, tão importantes para a
sobrevivência das mesmas. Sem privar os apreciadores destas carnes, do direito
de adquiri-las sempre que desejarem. Não podemos deixar de salientar, as
condições fito-sanitárias favoráveis dos alimentos originados de criadouros,
onde os animais estão sempre tratados e
livres de parasitas e doenças que podem estar presentes em animais abatidos
clandestinamente no meio ambiente.
Se você pudesse escolher, o que escolheria? Comprar
um animal silvestre procedente do tráfico na beira da estrada, em uma feira
livre ou em um depósito clandestino, sem saber sua origem, sua saúde ou o
quanto ele sofreu até chegar a você ou comprar um animal, nascido em cativeiro
autorizado pelo Ibama, cercado de todos os cuidados veterinários e que já
viesse marcado, sexado, com nota fiscal e de forma legal, conforme estabelece
as normas do IBAMA?
Acreditando na consciência ambiental das novas gerações é
que nos aventuramos como um dos criadores comerciais de Pacas, pioneiros em
Minas Gerais, na esperança de desenvolver uma atividade economicamente viável
para nossa pequena propriedade rural. Como técnico agropecuário com experiência
em criações de várias espécies domésticas de pequenos animais, sabia do enorme
desafio a ser enfrentado para manejar animais silvestres de forma
economicamente viável.
Oito anos depois de iniciarmos o projeto, com a
experiência adquirida quase que exclusivamente sozinho, já que a maioria dos
artigos sobre PACA que tivemos acesso e que deveriam nos nortear, além de conterem informações contraditórias entre
eles, as mesmas, nem sempre, coincidiram com o que observávamos no nosso criadouro. Debito as
diferenças entre estes relatos, às dificuldades de estudar em pouco tempo uma
espécie de habito noturno, solitário, intolerante e muito agressivo. Porém com
o aumento do número de criadores, e divulgação de informações dos erros e
acertos presenciados no contato diário com os animais, serão esclarecidas
muitas dúvidas sobre as técnicas a serem aplicadas para atingirmos índices cada
vês mais favoráveis a relação dos custos e benefícios.